Dieta restritiva X emagrecimento: Mitos e verdades

Dieta LowCarb? Dieta Paleolítica? Jejum Intermitente? Quem já não ouviu a respeito dessas modalidades de dieta? E elas funcionam? Sim! Mas funcionam para sempre? NÃO! E é aí que tudo começa a ficar complicado, não é verdade? Sabem por que ninguém consegue manter essas variações de dietas por um longo período? Porque são constituídas de PRIVAÇÃO.

A fórmula atual das dietas restritivas para o emagrecimento, seja restrição calórica ou exclusão de todo um grupo alimentar, estressa o corpo e o cérebro, desregula o centro de fome e saciedade, predispõe distúrbios alimentares e distúrbios de imagem corporal e ainda, estão ligadas a piora da saúde mental predispondo à depressão e à ansiedade.

É importante entender melhor como tudo isso funciona, a fim de fazer as escolhas mais adequadas a cada indivíduo.

  • Porque as dietas restritivas estressam o corpo e o cérebro?

A verdade é que o corpo não gosta que mexam com ele. Emagrecer é bom para a saúde, porém o processo de perda de peso é um trabalho a mais que seu corpo terá que realizar. E para entender como o seu corpo encara esta perda de peso é preciso conhecer a resposta a dois questionamentos:

Você sabe como o emagrecimento acontece e para onde vai a gordura quando você emagrece?

Segundo uma descoberta publicada no British Medical Journal em 2014 “a gordura acumulada é usada como fonte de energia pelo organismo. Para isso, ela é dividida em moléculas de oxigênio, hidrogênio e carbono. Quando queimado, o oxigênio se transforma em energia, liberando dois subprodutos: o dióxido de carbono (CO2) e água. O CO2 é eliminado pelos pulmões, e a água excretada na urina, fezes, suor, respiração, lágrimas e outros fluidos corporais”.

Além disso as células de gordura armazenam diversas substâncias que serão lançadas na corrente sanguínea quando usadas como energia e grandes perdas de peso levam a desequilíbrios que contribuem para formação de cálculos biliares, mais conhecidas como pedras na vesícula, existindo ainda o risco de hepatite gordurosa não alcoólica.

Novamente reforçando: o resultado final de uma dieta restritiva, que é emagrecer, é bom para a saúde, porém o processo exigirá mais recursos de seu corpo e um corpo que passe uma vida toda exposto a restrição alimentar, não poderá se manter saudável por muito tempo em virtude de todo o estresse fisiológico e mental sofrido neste processo.

Assim, o corpo, o cérebro e os genes irão começar uma operação conjunta para frear os resultados da restrição alimentar:

  • Diminuindo o metabolismo basal, com o objetivo de gastar menos energia, para frear o emagrecimento;
  • Alterando a regulação da fome e saciedade, para que o indivíduo coma mais e tenha mais vontade de comer alimentos de alta densidade calórica;
  • Ativando uma cascata genética, que permanecerá ativa por cerca de dois anos, que coloca o corpo no modo armazenamento.

Por isso, fazer e se manter na dieta restritiva é tão desafiador. Longe de ser por falta de força de vontade, falta de fé e falta de foco como largamente divulgado nos veículos de comunicação, não conseguir seguir uma dieta, na verdade, é fisiológico!

  • Porque causam sentimento de culpa e mal-estar?

Quando pessoas resolvem fazer dieta estão, em geral, preocupadas e se sentindo mal com sua saúde e sua aparência. Com alto grau de sofrimento psicossocial pelas roupas que não servem, o número na balança, o padrão normativo que não é visto no espelho.

Todas as vezes que se vestem enviam mensagens de mal-estar ao cérebro. A cada “escapada” da dieta se sentem culpadas e com vergonha.

A conclusão do cérebro será:  “estou mesmo em perigo”, o que reforçará todos os mecanismos expostos no começo dessa reflexão: metabolismo basal diminuído, genes de ganho de peso ligados e fome aumentada.

Os indivíduos em dietas restritivas começam a viver uma corrente de emoções não produtivas que pioram seu estado de saúde mental e passam a ter mais chance de desenvolver depressão e ansiedade.

O estigma da obesidade pode permear a vida dos indivíduos, fazendo com que sintam que merecem menos respeito por estarem obesos, reduzam sua autoestima e sua motivação para o cuidado pessoal e sejam menos satisfeitos com a vida.

  • Porque focam em controlar o que não é possível?

Uma grande parte do controle dos cuidados com a saúde, essenciais para quem busca emagrecer, em maior ou menor grau, costuma estar ao alcance de todos os indivíduos.

É possível controlar o quanto se permanece ativo, a qualidade alimentar do que se consome, a quantidade de descanso e sono. Ainda é possível cuidar do gerenciamento do estresse e proporcionar uma quantidade ideal de lazer para manter-se bem e equilibrado emocionalmente.

O “pensamento dieta”, porém, se baseia na falsa premissa de que o corpo é uma máquina matemática em que se pode interferir facilmente visando controlar o que não está ao alcance do indivíduo.  Metas como “emagrecer 5 kg até a próxima consulta” não deveriam ser usadas para avaliar se um indivíduo seguiu ou não a tal dieta prescrita.

Não há, de maneira nenhuma, como garantir que se alguém seguir uma dieta 100% vai emagrecer o que foi proposto. Porque? Porque pessoas não queimam alimentos, pessoas digerem o alimento e o metabolismo do corpo é muito complexo e influenciado por muitas variáveis.

As dietas restritivas funcionam como uma privação mental e física que aumenta o impulso para comer, podendo levar os indivíduos a episódios de comer demais, o que, em geral, será seguido de culpa e vergonha, realimentando então o comer emocional que visa aliviar esses sentimentos perpetuando os ciclos de dieta e restrição.

  • Porque faz você engordar mais depois?

Depois de uma dieta restritiva a tendência é que seu corpo tente voltar ao status pré dieta. É o cérebro que decide o peso ideal de cada um, há um “termostato” no cérebro que é o responsável por manter a faixa de peso pré-definida como correta. Para prevenção, o cérebro pode regular esse termostato um pouco para cima para garantir que você tenha mais peso caso ocorra uma nova temporada de restrição de nutrientes.

Não é incomum pessoas iniciarem uma dieta para emagrecer 5kg e gradativamente, vão ficando mais pesadas no fim de cada temporada. Depois de 10 anos estão com muito mais de 5kg além de seu peso ideal.

Não há melhor fórmula que o equilíbrio entre as escolhas alimentares. A questão é: nada de extremismos, use o bom senso.

É óbvio que alguns alimentos não devem integrar nosso cardápio semanal de forma constante e muito menos diária, mas não é preciso chegar ao extremo de se sentir obrigado a extingui-los de sua vida.

É importante ter consciência de que precisamos necessariamente (e em todas as refeições) ingerir alimentos realmente importantes, e tão essencial quanto isso é sentir-se livre para se alimentar.Todo o nosso ser está envolvido em cada ingestão de alimentos: pensamento, sentimento, vontade, consciência e inconsciência, corpo, alma e espírito. O mais importante é fazer boas escolhas e fazer as escolhas certas. Na dúvida procure sempre a orientação de um profissional de Nutrição.

Flávia Ferrazo é graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Goiás, especializada em Nutrição Clínica e Esportiva Funcional e Responsável Técnica da empresa Ravi Congelados Gourmet.

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